sexta-feira, 31 de julho de 2009

Não deu ...

Dos cinco resultados que colocariam o Grêmio no G-4, três ocorreram. O Inter ganhou do Barueri, o Santo André empatou com o Corínthians, e o Avaí ganhou do Vitória. Resultado paralelo ruim, só a vitória do Goiás sobre o Atlético/PR.

Só que o Grêmio não fez a sua parte. Perdeu para o São Paulo, jogando um futebol muito mimoso. Tipo bordado em ponto cruz.


Começamos a 15ª Rodada em 8º lugar. Se tivéssemos vencido, estaríamos em 5º, igualados em pontos e vitórias ao Vitória e Corínthians, mas com no mínimo dois gols a mais que os baianos, e pelo menos cinco gols a mais que os paulistas (segundo critério de desempate).

Se tivéssemos empatado, e continuaríamos em 8º, empatados em pontos com Avaí e Barueri, mas com um gol a mais de saldo que o Avaí. O Barueri ficaria para trás, com uma vitória a menos.

Mas “se tivéssemos” não existe. Perdemos, e terminamos em 10º lugar.


Azar ... domingo, em casa, recomeçamos. De novo.

O comunismo cristão das missões

De uns tempos para cá, não ando com paciência para ler muita coisa.

Mas minha irmã Maristela Moura (cujo blog vai para a rede logo, logo), me emprestou o livro cuja capa reproduzo ao lado, "As Relações de Trabalho nas Reduções Jesuíticas com os ìndios Guaranis, na Província do Paraguai" (FELKER, Reginald. São Paulo, LTr, 2009), que achei excelente.

É um belo livro, bem escrito, e com conteúdo bem pesquisado. Da bibliografia citada, pelo menos uma obra eu conhecia, de quando estudava na PUC: "A República Comunista Cristã dos Guaranis" (LUGON, Clovis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968).

A experiência de uma sociedade sem dinheiro me fascina. Deve ser o mais perto que já chegamos da utopia ...


quinta-feira, 30 de julho de 2009

Vinte e um anos depois ...

Uma das primeiras coisas que fiz, quando passei no vestibular de Direito, foi ir até o DCE da PUC, para comprar uma pastinha do curso. Mas não tinha do meu, então comprei de outro, não lembro se da enfermagem ou do jornalismo. Fui seduzido pela mensagem impressa na lateral da pasta: “Se diz violento o rio que tudo arrasta, mas não se dizem violentas as margens que o oprimem. Bertold Brecht”.

E tudo escrito em letras vermelhas, garrafais, com um camponês ao fundo, desenhado de enxada no ombro. Uma referência explícita ao MST, bastante perseguido na época. Eu militava no PCdoB, e a pasta combinava perfeitamente com minhas camisetas de mensagens engajadas.

Era um jovem sonhador, querendo mudar o mundo ...

De posse da pasta, me toquei na hora para a biblioteca, para ver se descobria mais alguma coisa do tal de Brecht, e encontrei “O analfabeto político”. Aí sim, me apaixonei, a ponto de passar os cinco anos seguintes usando mesma pastinha velha. Meu out-doorzinho portátil.

É sempre bom reproduzir esse “poema”, lembrando que foi escrito há trocentos anos, e a coisa parece que não muda nunca:

O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do pão, do peixe, da farinha,
do aluguel,
do sapato e do remédio, dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo que odeia a política.

Não sabe o imbecil que é da sua ignorância política
que nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Amanhã (31.07.2009) completa dezesseis anos que me formei. Passaram, portanto, vinte e um anos desde que comprei aquela pasta. E uma certeza eu tenho: não sou um Pokémon, porque não evoluí muito nesse tempo. No que é essencial, continuo acreditando nas mesmas coisas.

Só que agora sou um senhor de meia-idade. Mas sonhador, e querendo mudar o mundo ...
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quarta-feira, 29 de julho de 2009

Todo mundo precisa de alguém


Everybody need somebody... ou de alguma coisa. Finalmente, após anos de procura, consegui uma cópia de "Os irmãos Cara-de-Pau" (The Blues Brothers, EUA, 1980).
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Assisti esse filme pela primeira vez na adolescência, aqui em São Luiz mesmo. Na época, ir ao cinema era o programa obrigatório das noites de domingo. Não importava o que ia passar, o negócio era ir no cinema. A gente só ficava sabendo se era terror, drama, romance ou comédia com o andamento da sessão.
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Abre parêntese: diferente de hoje, quando escolhemos o filme, na época as pessoas não se preocupavam muito em saber o que iriam assistir, e iam ao cinema como quem aposta numa loteria. Não esqueço da vez que passou Calígula, o Cine Lux abarrotado, e com dez minutos de projeção foi aquela debandada de casais indo embora, as mulheres escandalizadas (ou fingindo) com as cenas de sexo pra lá de explícito. Fecha parêntese.
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No início estranhei, até achei que não iria gostar: são cenas silenciosas de uma penitenciária americana, com um detento sendo liberado na “condicional”. Antes de sair, um funcionário lhe devolve os bens que haviam sido apreendidos em seu poder. O agente abre uma caixa e começa a ler a lista em voz alta, na medida em que coloca os objetos sobre o balcão: “um relógio quebrado, uma camisinha intacta...” pausa ... o cara pega uma uma caneta, pesca com ela, de dentro da caixa, um charuto de plástico meio esbranquiçado, retorcido e ressecado, e o coloca sobre o balcão, dizendo... “uma camisinha usada...” e o cinema veio abaixo de tanta risada.
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Conheci ali meu filme preferido. Cult para uma legião de admiradores, considerado medíocre para outros tantos, Os Irmãos Cara de Pau tem cenas que eu, pelo menos, acho hilárias. As atuações do Dan Aykroyd, e especialmente do John Belushi, são geniais.
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A trilha sonora é de primeira, com participação de James Brown, Ray Charles, Aretha Franklin, Cab Calloway, Steve Croper e outros. No enredo, uma perseguição que emenda na outra, dois protagonistas que não se afetam com o que acontece ao seu redor, a maior destruição de carros policiais da história do cinema, e o fantástico show no Palace Hotel Ballroom, onde eles ensinam que everybody need somebody to love.
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Eu captei a mensagem, e achei meu alguém logo em seguida...
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No final, a banda toda está presa, tocando Jailhouse Rock para os outros detentos. Para quem não domina o inglês, como eu, vale a pena buscar a tradução.
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Depois disso, tinha assistido só mais uma vez nesses anos todos, e na televisão, com os prejuízos da dublagem, dos comerciais, etc. Confesso que ter o filme ao meu dispor, para assistir quando quisesse, era um sonho de consumo. E depois de anos pacientemente procurando em locadoras, e nunca encontrando, me rendi. Azar do goleiro, baixei da internet.
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Mas antes que me apontem o AI-5 Digital do tal Senador Azevedo, invoco a lei, a jurisprudência, o Direito Comparado e o Código Canônico, e assevero que não intentei lucro, nem farei da obra exposição ou uso público indevido, considerando assim, data maxima venia, que não violei eventuais direitos de propriedade tutelados pelo estatuto repressivo. Pelo menos, em tese.
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Assisti o filme junto com minha filha Luísa, que adorou. Pelo jeito, não sou o único sem-noção da família.
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Novos links

Estou adicionando dois blogs à lista que recomendo.

O primeiro é Opinião Singela, de meu amigo César Bento, de Porto Alegre. O Outro é O Partisan, que não sei de quem é, mas é muito bom.

Boa leitura.

terça-feira, 28 de julho de 2009

A propósito de futebol, acho que o Grêmio pode terminar a próxima rodada (29 e 30.07.2009) no grupo da Libertadores. Postei este palpite no Blog do Lauro, e vou repetir aqui, para que depois do acontecido não duvidem de minha previsão.

Para tanto, devem ocorrer os seguintes resultados: Grêmio ganha do São Paulo; Inter ganha ou empata com o Barueri; Goiás empata ou perde para o Atlético/PR; Corinthians empata ou perde para o Santo André; Avaí ganha do Vitória.

Nesse caso, o Grêmio terminaria a rodada em quarto lugar, empatado em pontos com o Vitória e talvez o Corinthians ou Goiás, mas levando vantagem sobre o Goiás no primeiro critério de desempate (uma vitória a mais) e sobre o Vitória e Corinthians no segundo critério de desempate (no minimo com um gol a mais no saldo de gols).

Mas se acontecer isso tudo, não vou estranhar se o Sargento Garcia aparecer na Delegacia, trazendo o Zorro preso ...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Grêmio jogando fora de casa


O Kayser, além de gremistão, é um dos melhores cartunistas em atividade no RS. É meu favorito. Suas charges sobre o Grêmio, então, dizem tudo o que nós, torcedores estamos sentido.

Para conhecer melhor seu trabalho, visite http://blogdokayser.blogspot.com/, blog que eu elenco entre a Mídia Livre que Acompanho Sempre (vide barra lateral), juntamente com Rs Urgente, Cloaca, Dialógico e Diário Gauche e Tomando na Cuia.
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sexta-feira, 17 de julho de 2009

O apartamento de Olívio

Na última eleição, eu concorri a Prefeito de Dom Pedrito, RS, em chapa-pura do PT. Um dia, o Olívio esteve lá para ajudar na campanha, e demoramos quase três horas para caminhar umas dez quadras, tanta gente juntou para cumprimentá-lo.

Comentei isso no horário eleitoral de rádio, e desafiei minha oponente (tucana) a fazer a mesma caminhada com a Yeda, pois assim, em contato direto com o povo, a Governadora teria a oportunidade de desfazer os boatos maldosos de que sua mansão havia sido foi comprada com dinheiro ilícito.

E arrematei dizendo que eu me orgulhava de caminhar com o Olívio, que mora mo mesmo apartamento de quando era bancário, e não teve seu patrimônio quadruplicado, da noite para o dia.

Pois, por incrível que pareça, minha oponente não defendeu a Yeda, ao contrário, entrou na justiça eleitoral, alegando uma injúria, pois eu estaria associando seu nome ao de pessoas que estavam sendo investigadas (???). E a justiça ainda concedeu direito de resposta, no qual a opositora apenas falou um blá-blá-blá sobre "rebaixamento do nível da campanha", etc.

Hoje eu lembrei disso, lendo no RS Urgente uma postagem justamente com o título "O apartamento de Olívio Dutra", que tomo a liverdade de reproduzir abaixo. A postagem é de Marco Weissheimer. Ver original em
http://rsurgente.opsblog.org/.

"Um leitor do blog envia texto de Adão Oliveira, publicado no Jornal do Comércio, no dia 17 de agosto de 2005. Guarda atualidade:

Ontem (16/08/2005), vi uma foto do ex-governador e ex-ministro Olívio Dutra, tomando chimarrão, espremido na apertada sala de sua residência, na zona norte da cidade. Até aí nada de mais, não fosse o ex-bancário ter ocupado a chefia do Executivo gaúcho e o ministério das Cidades, durante mais de dois anos do governo Lula. Olívio não é mais governador e muito menos ministro, mas continua o mesmo sujeito simples de antes. O missioneiro, que mandou e desmandou em orçamentos altíssimos, não mexeu em nada que não lhe pertencesse. O cofre nunca lhe caiu nos pés. Terminadas as suas tarefas, Olívio voltava para o acanhado apartamento que um dia conseguiu comprar com os parcos salários que recebia como funcionário do Banrisul. Olívio Dutra é, pois, um homem honesto! Nem sei porque estou escrevendo sobre isso, porque eu participo do princípio que honestidade não é virtude. Honestidade é inerente ao cidadão. Não ser honesto é um grave defeito de caráter mas, honestidade, não é virtude. Mas virtude ou não, a verdade é que Olívio Dutra é um homem intrinsecamente honesto."

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quarta-feira, 15 de julho de 2009


Hoje lembrei do Profeta Gentileza, figura notável que por vinte anos pregou, no Rio de Janeiro, que "Gentileza Gera Gentileza". Acho que a essência da sua mensagem é que "Deus é Gentileza".

Reproduzo abaixo um de seus textos-murais, extraído do Livro Univvverrsso Gentileza, do pesquisador carioca Leonardo Guelman:

"A natureza não vende terra,
a natureza não cobra pra dar alimentação para nós.
Esse dia lindo,
essa luz que está em cima de nós, a nossa vida,
ou seja, vem do mundo, é de graça,
é Deus nosso Pai que dá.

Agora o capeta do homem que é o capitalismo, é que vende tudo, destrói tudo, destruindo a própria humanidade.
Capeta vem de origem capital. É o vil metal
Faz o diabo, demônio marginal.

Por esse motivo, a humanidade vive mal.
Mal de situação,
mau de maldade,
porque o capitalismo é falsidade,
o pranto de toda a maldade,
raiz de toda a perversidade do mundo.
É o dinheiro.

O dinheiro destrói a mente da humanidade.
O dinheiro coloca a humanidade surdo.
O dinheiro destrói o amor.
O dinheiro cega.
O dinheiro mata.

Todo dia você lê jornal, ouve rádio,
televisão, só vê barbaridade:
é crime, é assalto, é sequestro, é vício, nudez,
devassidão, fome e guerra.
Vai ver qual é a causa:
capitalismo."

Para conhecer mais, sugiro
http://www.gentileza.net/ e http://www.riocomgentileza.com.br/.

sábado, 11 de julho de 2009

Dirigir é um estresse


Acho que eu já dirijo há uns trinta anos. Carteira, pelo menos, eu tenho desde os dezoito, e nesses anos todos devo ter rodado uma quilometragem suficiente para dar algumas voltas no planeta. Mas, de uns tempos para cá, descobri que não gosto mais de dirigir.

Até então, a serviço ou a passeio, cruzava o Estado dirigindo e não sentia o mínimo cansaço, ficava até mais disposto.

Agora, tenho preguiça até de movimentar o carro na garagem. Torço por uma carona, ou que dirijam para mim. É muito mais agradável o banco do caroneiro, a possibilidade de olhar pela janela, e ver o movimento das calçadas, a arquitetura das casas, a paisagem do campo.

É que tem muito estresse no trânsito, mesmo em cidades menores, como São Luiz. A impaciência é geral. Tem muito Pato Donald dirigindo por aí, ficando agressivo por qualquer coisa.

Um dia desses, aguardei um tempão na esquina do IPE, esperando a chance de dobrar à esquerda, e subir em direção à Praça. Quando diminuiu o movimento da minha mão esquerda, que descia a São João, e vi que o carro que vinha na minha mão direita estava ainda lá pelo meio da outra quadra, bem longe da esquina, me movimentei. Só que esse motorista, ao ver o que eu fazia, ao invés de seguir na mesma velocidade, acelerou seu carro, de forma que eu tive que entrar na contramão para evitar uma batida. E foi embora fazendo gestos, como se fosse eu o errado.

Ele me viu, e acelerou de propósito. Se continuasse na mesma velocidade, eu teria entrado normalmente, e ele não teria se atrasado nem meio segundo. Tenho certeza que fiz a manobra certa, no tempo certo, mas mesmo que estivesse errado, o comportamento correto dele (o bom motorista) seria diminuir a velocidade e dar espaço para que o barbeiro (eu, no caso) completasse a manobra.

Talvez ele tenha pensado que, como estava na via preferencial, ainda que longe da esquina, era muita audácia minha não aguardar sua passagem, e quis mostrar quem era o motorista-alfa por ali. Pura maldade.

Essas coisas acontecem o tempo todo, e é isso que me desanima. Muito poucas pessoas seguram o carro para que o motorista da frente manobre para estacionar, ou para sair do estacionamento ou garagem. Quase ninguém reduz a velocidade para que o outro carro possa trocar de faixa, ou evita parar o carro sobre a faixa de segurança, mas muitos exageram na velocidade, colocam o som à todo volume, e por aí afora. Há pouca gentileza no trânsito, e talvez eu é que esteja errado, por não mostrar toda a minha testosterona ao volante.

Mas tudo bem. Logo que eu acertar na Mega Sena, vou contratar um chauffer. Um Jarbas, um Charles, o nome tanto faz, contanto que tenha curso de direção defensiva.

E aí vou no banco de trás, só olhando pela janelinha ...

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Treinadores

Uma coisa que não pude deixar de notar, nos jogos do Pan e nas Olimpíadas, é a relevância que os treinadores alcançaram, com certeza uma conseqüência da profissionalização do esporte, que exige dos atletas uma atenção absoluta a pequenos detalhes técnicos, imperceptíveis para leigos, mas decisivos para a conquista de resultados positivos.

Mas, por maior que seja o vínculo que os treinadores atuais possuam com seus atletas, nenhum se equipara em importância ao treinador do Ceguinho, figura mítica que, segundo consta, viveu em São Luiz Gonzaga, nos anos 20 século passado. Ele era cego de nascença, mas temido nos bolichos da cidade e redondezas.

Invencível numa briga de faca, volta e meia o Ceguinho espetava um vivente na ponta da adaga.

A agilidade com a arma branca vinha das instruções precisas do seu treinador, um anãozinho, que em caso de peleia subia nos balcões dos bolichos, e orientava seus movimentos gritando: em cima, embaixo, direita, esquerda, pra frente, pra trás, aperta, afrouxa, avança, volta, crava, puxa, e por ai afora.

Fazendo de forma precisa, com a adaga, os movimentos que o anão mandava, Ceguinho logo feria mortalmente os adversários. Isso só acabou no dia em que um índio, antes de pelear com o cego, deu um tiro no anão.

Se foi a invencibilidade ...

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO JORNAL PONCHE VERDE, DE DOM PEDRITO, RS,
EM 11.08.2006, E NO LIVRO CRONICAS ESCOLHIDAS, DO AUTOR DO BLOG, EM JULHO DE 2008.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

O Coronel e a Fila de Transplantes

Esta semana lembrei de um livro que li quando adolescente, e me impressionou muito na época. Na verdade, ainda hoje a narrativa me perturba um tanto. Trata-se de “Ninguém escreve ao Coronel”, escrito por Gabriel Garcia Márquez quando era jovem e morava sozinho em Paris, isso bem antes de receber o Prêmio Nobel de Literatura. Talvez devido às experiências então vivenciadas pelo autor, o livro transpire solidão e melancolia.

A história é mais ou menos a seguinte: um velho coronel, morando com sua esposa também velha e doente, na periferia de uma cidadezinha, passa a vida esperando uma carta, que trará a notícia da sua aposentadoria. E todas as semanas, mês após mês, ano após ano, ele se arruma para receber a carta, que não chega nunca. Na casa pobre, de móveis corroídos pela miséria, um galo de rinha, herança de um filho falecido, faz companhia ao casal. O galo poderia ser vendido para comprarem comida, mas isso empobreceria ainda mais seu cotidiano, por suprimir a última ligação com o filho que já se foi.

Na rotina de fome e pobreza do casal, transparece a solidão da velhice e do abandono. A vida se arrasta, e os personagens vão sobrevivendo, esperando a carta que pode mudar suas vidas, mas que não chega nunca.

Quem leu esse livro, não pode deixar de ficar triste. Dá pena dos personagens, e medo de acabar assim, sozinho, preocupando-se apenas em avançar mais um dia, à espera de uma solução que depende dos outros. Uma solução que demora, e talvez nem chegue a tempo.

Eu lembrei do livro, ao assistir as matérias que a televisão está mostrando, para incentivar a doação de órgãos.

Não sei por que, não consigo me contentar vendo as pessoas que aparecem felizes, aliviadas porque um parente recebeu, através do órgão esperado, a oportunidade de continuar vivo, e agora vivendo, não apenas sobrevivendo. Fico feliz por elas, mas alguma coisa faz com que meu pensamento se fixe mais nos que não suportaram a espera, e morreram antes que lhes fosse alcançado um coração, pulmão, fígado ou rim. Ou naqueles que ainda estão na fila de transplantes, esperando um telefonema, como o coronel esperava sua carta.

Imagino os pais de uma criança, não esperando uma carta, sexta após sexta, mas um telefonema, minuto após minuto, com a notícia de que há um órgão disponível. Que há vida disponível.

As pessoas não deveriam ter que passar por isso, pois sendo uma população de milhões, a espera não poderia ser tão demorada. A "fila de transplantes" não poderia ser tão longa.

Ninguém escrevia ao coronel, mas na doação de órgãos, os "remetentes" somos nós. Assim, considero um dever de todos explicitar a vontade de doar, e insistir que esse desejo seja respeitado. É como cantava o Eduardo Dusek, em uma música que, no fundo, não deixa de ter algo a ver com o tema: "deixe na história da sua vida uma notícia nobre".